Quem frequenta o transporte público muito provavelmente já ouviu a
famosa frase: “Eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas não...
Estou aqui pedindo a sua colaboração”.
Aliás, não precisa nem estar num transporte público. No trânsito, bares e
até shoppings encontramos os pedintes e pedintes no mínimo folgados.
Não dou dinheiro. Pode passar o papel com dizeres tristes, pode
falar da dificuldade de conseguir um emprego, da falta de verba para comprar um
remédio, dinheiro eu não dou.
Também não nego comida. Normalmente ando com um pacote de alguma
tranqueira na bolsa, se pediu comida pode levá-lo. Comida não se nega. Não acho justo ver alguém com fome sendo que posso ajudar. Já paguei passagem de ônibus, mas dinheiro em espécie nem adianta pedir que não vou dar.
Recentemente estava com minhas amigas no Charm da Augusta – boteco com
cara de padaria localizada na esquina da Augusta com a Rua Antonio Carlos, pertinho do Espaço Unibanco - e um senhor passou vendendo flores. Como boas jornalistas que somos não tínhamos um real. Ele pediu qualquer centavo. Realmente não tínhamos. Minha amiga disse: "Só temos cartão". Então ele pediu um marmitex, que poderia ser comprado no próprio boteco. Não negamos e ele, agradecido, deixou duas flores.
Por isso fico indignada com a audácia de alguém que chega sem qualquer
humildade e pede ameaçando. Isto é sim uma ameaça, “eu podia estar matando, eu
podia estar roubando”. Ora, eu também!
Também “podia estar roubando, matando, pedindo”, mas não... Não
estou pedindo sua colaboração e sim pegando o transporte lotado para ir ao meu
trabalho.
Bem capaz que me julguem nazista, reacionária ou sei lá. Podem julgar. Claro que tive
muita sorte em minha vida. Meus pais sempre me auxiliaram e aproveitei da minha
sorte. Nunca deixei de estudar e/ou trabalhar.
Mas os problemas daqueles que pedem não serão resolvidos com uns trocados. Por isso não nego comida, se é fome a gente resolve. Afinal o que se faz com um real hoje em dia?
Aliás, claro que já dei dinheiro por aí, não sou um coração de pedra e tem gente que sabe ser singela ao pedir. No entanto, da última vez que dei uns trocados ouvi em troca: "Só isso?". Devia ter pedido de volta.
Não venha me dizer que quem pede não tem capacidade ou condições
de fazer algo que mereça recompensa. O senhor da Augusta não estava vendendo
rosas? Era um senhor já de muita idade, mas estava lá trabalhando. Fico abismada como alguém em plena saúde tem
o descaramento de invadir meu sossego pedindo dinheiro como se fosse fácil
ganhá-lo.
Há poucas semanas estava no caminho de casa quando uma criança me
abordou.
“Me dá um trocado agora”.
Estava com meus fones, mantive a educação – coisa que ele não tem - e
ignorei o jovenzinho. Além de pedir dinheiro tinha que ser “agora”. Ah tá,
entendi.
No caminho fui pensando que muito provavelmente ele será o próximo a
anunciar: “Eu podia estar matando... Eu podia estar roubando...”.
Trabalhar ninguém quer.